Ricardo Marques em representação do Centro de Cultura e Desporto do Crédito Agrícola Mútuo 

O nosso atleta Ricardo Marques concluiu o Half Iron Man de cascais com distinção. Concluiu a prova em 5h35 sendo que levou 35minutos a concluir o segmento de natação, 3h02 a concluir o segmento de bicicleta e 1h45 a concluir o segmento de corrida.

A prova relatada pelo nosso Homem de Ferro. 

Quem me conhece sabe que não sou de desistir, esta prova podia ter tido um desfecho diferente…

Desde Maio, a última prova de triatlo que tinha feito (IM 70.3 Mallorca), vinha a fazer preparação para melhorar a corrida e, em Junho comecei com umas “impressões” no pé que se vieram a comprovar ser fascite plantar (nunca tinha tido), mas à boa maneira continuava a fazer cerca de 200km/mês (pouco para o que queria). A desmotivar com o que sentia fui reduzindo o esforço e procurando recuperar sem comprometer a condição física. Foi em setembro que se deu o pior, a cerca de 1 mês da prova, tive que parar a corrida por completo e ficar a treinar apenas de bicicleta, na qual não tocava desde maio.

Lia sobre todas as formas de tratar a fascite, comprei sapatilhas e chinelos de recuperação supostamente melhores para essa condição, pistola de massagem, aparelhos de electroestimulação, massagens com géis e pomadas diários, bola de ténis e de golf, medicamentos homeopáticos, sessões de fisioterapia localizadas… sei lá que mais! E as melhorias eram medíocres.

O mês de Outubro iniciava-se e a dúvida adensava: devo fazer isto? Todos diziam que não. Mas achei que senão começava a correr seria difícil fazer a prova… assim, mesmo com dores nos pés e outras que surgiam por compensação do esforço lá me fui fazendo à estrada, tentando dia após dia que resultasse, contrariando “todos” para que a confiança de que suportaria os 21km de corrida que a prova exigiria aumentasse. O pensamento estava em que depois dos pés estarem aquecidos iria conseguir aguentar!

Para compreender o pouco treino fazia a matemática: nos 4 meses, de Julho a Outubro, fiz 430km (Setembro apenas 46km) de corrida e, a partir de setembro, fiz 540km de bicicleta. Natação? 0 (zero!!).. Vai dar! Mas na verdade era com muito baixas expectativas que encarava a prova que se avizinhava: 1,9km a nadar + 90km de bicicleta + 21km corrida. Pouco treino e o que tinha era bastante desmotivador pelas dores sempre presentes… resumo: tudo mal!

Ainda assim não deixei que todos os factores à minha volta, onde se incluía a chuva imensa que caía, me tirassem a alegria de ir buscar o dorsal, e no dia seguinte entregar a bicicleta e fazer os preparativos a rigor para a execução do IronMan 70.3 Cascais, uma prova com vibração e participação muito particular e engraçada!

Chegados ao dia da prova, água a 17ºC, temperatura ambiente ligeiramente abaixo.. brrr.. era noite ainda quando fui verificar a bicicleta, colocar as águas e suplementos, verificar a pressão dos pneus, last check e seguir para a praia… Focado, só pensava em 2 coisas: “pés gelados” e “vais conseguir”, na verdade é o que devemos sentir contrariando todos os pensamentos de se o treino é suficiente, se a dor vai voltar, se nos vamos superar.. “Vais conseguir” dizia e repetia para mim.

Formalidades passadas, encontrava-me à beira da água, pronto para dar o primeiro passo. E fui!

 Esqueci tudo… areia, frio, pés, dores.. fui eu e água, água e eu até enjoar! Que parecia que não acabava! Mas ao sair da água um breve olhar ao relógio e marcava 34min! Uau disse para mim, afinal mesmo sem treino só tinha feito mais 2 min que o melhor tempo que tenho! Siga!

Lutei para chegar à transição 1 e tentei despachar o mais rápido que conseguia, as mãos não ajudavam a mexer de tão geladas que estavam! Corro até a bicicleta e começa. Repito “vais conseguir.. só tens de ter cabeça agora”, mais uma vez o fantasma do “falta treino” assolava-me e eu convencia-me de que faria mais lento, mas não haveria problema relembrando todas as adversidades que tinha ultrapassado nos últimos meses..

Subia à Malveira a 10-15km/h, muitos ultrapassavam.. e eu dizia “calma.. vais conseguir” e assim foi até começarem as descidas e mais subidas.. quando começo a dirigir-me à marginal, vejo que a velocidade média se estava a aproximar dos 28km/h e fez-se um clique! “Epá! Não estás muito longe do que farias com treino!” e todo o jogo mudou, o foco passou a ser colocar a média em cerca de 30km/h ao longo do restante caminho e ainda faltava! Foi quando estava quase a chegar a Cascais que percebi que era mesmo! Ia fazer apenas uns minutos mais que as 3h! todo eu sorria por dentro!

Transição 2, vamos lá, motivadíssimo, sem saber o que esperava dizia para mim “agora é hora de pagar a fatura” lembrando o esforço que fiz anterior para manter os tempos. Começo com calma, a pensar que devia andar nos abastecimentos, mas na primeira hesitação, achei que devia continuar até aguentar. Os abastecimentos passavam e eu sentia-me abastecido por toda a energia das pessoas à volta, por todos aqueles que mesmo sabendo que não estavam ali estavam comigo. E os kms sucederam-se! Ajeita a posição do pé, alarga ou encurta a passada, brinca com este ou aquele, procura a motivação, era apenas o que me acompanhava e foi assim até aos últimos 300m. Quando oiço “Ricardo!” e olho.. estavam mesmo a acenar para mim! Foi a explosão! “Estou a acabar! Estou a acabar!!” dizia eu aos pulos de felicidade, logo a seguir outro amigo! Ainda mais surpreso fiquei, tudo tão bom, mesmo no fim dei os passos, encontrei o tapete vermelho e terminei!

Não sou de desistir não e acredito que não devemos parar de lutar pelos nossos objectivos, estas provas mais longas mostram que pode calhar sempre um bom dia, uma boa motivação, aparecer um amigo que no melhor dos alinhamentos nos faz superar! Não fiz o meu melhor tempo, mas não fiquei muito atrás. Acreditem! Todos temos as nossas lutas a manter e isso é que nos torna mais fortes e mais humanos. Boas corridas!